quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Veias abertas, ainda...

Estava lendo críticas ao livro de Eduardo Galeano “As veias abertas da América Latina”, especialmente as publicadas em 2014 após a participação dele na 2ª Bienal do Livro de Brasília. Essa passagem me chamou a atenção para o que os meios de comunicação avaliaram como “arrependimento” ou que eles classificaram que Galeano achava – simplificadamente - “ruim” o texto.

Não sou estudiosa de Galeano, mas tenho comigo que o alvoroço foi criado erroneamente. O grande escritor na verdade foi mal interpretado. Ele disse algo mais profundo que isso.

Coloquei como meta concluir a leitura do chamado clássico das “esquerdas” e até o momento não vejo porque motivo Galeano não deveria ler ou escrever aquele texto novamente. É certo que é árido. Muito árido ler como fomos de alguma forma saqueados por outras potências (e por acaso deixamos de ser?).
Mas aquela é uma denúncia que precisava ser feita. Foi muito importante para a época e fez governos (muito deles militares) tremer (o livro foi proibido). Veja um exemplo de verdades que o livro traz:

Meu companheiro, camponês de fala guarani, desabafou algumas palavras tristes em seu castelhano. “Os paraguaios somos pobres e poucos” (Galeano, 2016, p. 265).

É certo que ele alegou não ter na época formação necessária em economia para a escrita, mas somente a reflexão de quanto o povo latino é e foi historicamente explorado já vale todo o trabalho. E vale ainda mais a sua leitura, é claro.

O que me chama a atenção é a mistura com a literatura feia na obra, porque livros de Jorge Amado também são referências (São Jorge de Ilhéus e Gabriela – Cravo e Canela) no capítulo “Plantadores de cacau acendiam seus charutos com notas de quinhentos mil-réis”. Mas a literatura não é espaço de denúncia, em que gritos podem ecoar e mostrar realidades?

Em tempo, ainda registro com olhar de admiração porque a obra de Galeano dialogou com clássicos brasileiros: “Formação Econômica do Brasil” de Celso Furtado, “História Econômica do Brasil” de Caio Prado Júnior, títulos de Darcy Ribeiro, dentro outros que se somam a autores argentinos, mexicanos, uruguaios, peruanos, chilenos, bolivianos...


Outras informações encontradas na internet sobre Veias abertas:


Para o escritor amazonense Milton Hatoum a obra do jornalista e contista uruguaio “deveria ser trabalhada nos cursos de jornalismo”.


Nascido no Uruguai, Eduardo Germán María Hughes Galeano, foi jornalista e outras profissões mais. Segundo a sinopse da Wikipédia:


No livro, de 1971, Galeano analisa a história da América Latina desde o período da colonização europeia até a Idade Contemporânea, argumentando contra a exploração econômica e a dominação política do continente, primeiramente pelos europeus e seus descendentes e, mais tarde, pelos Estados Unidos. A exploração do continente foi acompanhada de constante derramamento de sangue indígena. Devido à exposição de eventos de grande impacto para o conhecimento da história do continente, o livro foi banido na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai durante as ditaduras militares destes países.


E como diz a edição da LPM que tenho, Veias abertas da América Latina é "um livro (infelizmente) atual". Foi o que escreveu Galeano no prefácio escrito em agosto de 2010. A obra foi escrita em 1970 (1ª edição) e em 1977 ganhou uma atualização. 

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