domingo, 6 de novembro de 2011

Farquhar, Chateaubriand e Comunicação

Lendo a Revista Momento Brasil (Setembro/2011 – Ano IX/Edição 89), de Porto Velho (RO), aprendi mais sobre “As proezas de Farquhar”. Num primeiro momento me veio o nome de uma das ruas daqui. Mas logo o liguei à comunicação, porque esse polêmico norte-americano teve ao seu lado (o também polêmico) Assis Chateaubriand. “Percival Farquhar foi o maior investidor privado do Brasil entre 1905 e 1918. Seus interesses iam das ferrovias à energia elétrica, passando por mineração e turismo”, diz a reportagem. Em Rondônia, ele construiu a Ferrovia Madeira-Mamoré, que virou minissérie da Globo: Mad Maria.

No livro “Chatô, o Rei do Brasil” (Companhia das Letras – 1994), Fernando Morais assim descreve o primeiro encontro entre Farquhar e Chateaubriand:

“Foi como diretor do Estado que ele conheceu o Quaker norte-americano Percival Farquhar, dono da Rio de Janeiro Light & Power, da Companhia Telefônica Brasileira, da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, das ferrovias Mogiana e Paulista, em São Paulo, da Porto f Pará – proprietária do porto de Belém do Pará – e da Amazon Development Land Colonization Co. assim, como acontecia com suas ferrovias construídas na Rússia czarista, suas minas de carvão na Europa Central e seus engenhos de açúcar em Cuba, Farquhar dirigia as empresas brasileiras de Paris, Nova York ou da Pensilvânia, onde mantinha a sede de seu império internacional. Do governo brasileiro ele recebera como doação 60 mil quilômetros quadrados de terras para colonização, área que décadas depois viria a construir o estado do Amapá. Chateaubriand foi encarregado de entrevistar o magnata a bordo do Amazon, no porto de Recife, quando o milionário tinha acabado de realizar sua mais ousada epopéia tropical: a construção, no meio da selva amazônica, da Ferrovia Madeira-Mamoré. No ano anterior, os portuários de Belém haviam organizado uma paralisação para protestar contra o surto de febre amarela que eclodiu na cidade, e Farquhar contratou o melhor: mandou chamar o cientista Osvaldo Cruz, que em 1906 erradicara a mesma peste no Rio de Janeiro, para sanear Belém e combater os focos da malária surgidos entre os trabalhadores da Madeira-Mamoré. Defensor da internacionalização da economia brasileira – o que logo transformaria Chateaubriand em seu aliado internacional -, Farquhar acreditava que nenhum país poderia se desenvolver sem bons hotéis e cozinheiros refinados. Como o Brasil do começo do século não dispunha de das duas qualidades, ele próprio tomou a iniciativa de equipá-lo. Construiu em São Paulo a elegante Rotisserie Sportsman e o Hotel Guarujá, no litoral paulista, e importou da cozinha do Elysée Palace Hotel, de Paris, o chef Henri Gallon. Quando os dois se conheceram, o americano tinha acabado de comprar o terreno do antigo Convento da Ajuda, no Rio de Janeiro, onde pretendia construir um hotel ‘capaz de deixar o Waldorf Astoria parecido com uma tapera amazônica’. Além de se transformar , pouco tempo depois, no principal advogado dos interesses brasileiros da holding no Brazil Railway, Chateaubriand acabaria roubando de Farquhar o chef Gallon, que seria seu mordomo até o fim da vida”.

Sobre os pagamentos recebidos por Chateaubriand o livro traz:

“Se não davam para realizar o sonho de comprar um jornal, os honorários recebidos de Farquhar eram mais que suficientes para satisfazer seu luxo preferido, os carros elegantes”.

Certa vez, o ex-presidente Artur Bernardes teria falado sobre o jornalista (seu desafeto):

“Esse Chateaubriand é inacreditável. Todos nós temos um mito brasileiro: o deste é Caxias, o daquele é Floriano, o outrem tem Rui Barbosa. Os heróis do mundo de Chateaubriand são Farquhar, Pierson, Mackenzie, Herbert Couzens. Agora anda de namoro com um tal engenheiro Billings. Nunca o vi pronunciar o nome de um brasileiro como objeto de sua admiração”.

De outra feita, defendendo Farquhar contra uma medida de Getúlio Vargas, Chateaubriand teria dito que ele merecia ter:

“no mínimo uma estátua em Porto Velho, outra em Belém do Pará, uma em Manaus e mais três em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul” (...) “Tanta pujança teria feito a glória de qualquer homem nos Estados Unidos, mas no Brasil o Sr. Farquhar é denegrido pela indigência mental dos nossos tenentes”.

Há outras passagens no livro que fala do trabalho de Osvaldo Cruz para sanear Guajará-Mirim. Além do envolvimento entre os dois homens que movimentaram a sociedade brasileira no século XX.

Mad Maria – O ator Tony Ramos viveu o personagem Percival Farquhar em Mad Maria, produzida pela Rede Globo e pelo Canal Futura entre 25 de janeiro e 25 de março de 2005 em 35 capítulos, conforme explica a Wikipédia. A minissérie de Benedito Ruy Barbosa e direção de Ricardo Waddington foi baseada no romance hormônio de Márcio de Souza. A base da história é a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em 1912, obra que custou a vida de milhares de trabalhadores, e que teve investimento do governo brasileiro para compensar a Bolívia pela perda do território do Acre.

“Ao todo, a minissérie mobilizou cerca de 400 funcionários em Rondônia. Elenco e Técnicos geraram só nos trinta dias que ficaram em Guajará-Mirim, uma das bases de gravações, o impacto de um milhão de reais da economia local. A minissérie como um todo, foi orçada em cerca de doze milhões de Reais”. Ainda segundo a Wikipédia, “a Globo Marcas lançou o livro Uma Saga Amazônica Através da Minissérie Mad Maria, que retrata as gravações da minissérie”.

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