sábado, 10 de setembro de 2011

Histórias de vida

Para mostrar um relato de vida que envolvesse superação, a professora Rosângela Silva Castelo levou à aula de História da Radiodifusão um empresário de Porto Velho: Ailton Arthur, da Social Imóveis. A imobiliária tem sua sede na Avenida Jorge Teixeira e uma filial no local onde ficava a Selva Terra. Das minhas anotações, ficaram o seguinte registro (a foto ao lado é do Jornal Gente de Opinião):


Aos 50 anos de idade, o capixaba de Vila Velha (de pais mineiros) relembra que no ano de 1973 levou uma semana em um ônibus no trajeto Espírito Santo/Ji-Paraná (RO), “de Cuiabá a Porto Velho era muito sofrido”: atoleiros, banana, bolacha. “Nada foi fácil”. Começaram com 15 hectares em Ji-Paraná e depois os pais compraram mais 100 ha em Jaru.

Desde cedo trabalhava na roça com o pai. Mas a mãe incentivava os filhos a serem doutores, a terem uma casa bonita, por isso ele sempre pensou: “tenho que crescer, tenho que estudar. Acho que vou ser vendedor”. E por volta dos nove anos ele começou a vender milho verde. Depois carregava verdura, só que as condições não eram tão favoráveis, visto que se atolava muito para o transporte.

Outra atividade que ele realizou nessa época foi o de revender pães das panificadoras, saia oferecendo de casa em casa. Eram de 20 a 50 pães dentro de uma cesta. Quando já havia conquistado uma clientela grande, passou a fazer entrega em locais definidos.

A mãe o enviou para o Colégio Salesiano de Cuiabá, onde cada estudante levava seu “enxoval”. Mesmo assim, sempre ia à mercearia para revender balas aos colegas, garantindo a pasta de dente e o sabonete para seu uso pessoal. Nas ruas cuiabanas, olhava as casas bonitas, sempre pensando em trabalhar para ter a sua, o seu carro, a sua moto, em casar e ter três filhos...

Por sua atuação como goleiro do time, sempre era procurado para as partidas. O mesmo ocorreu na época que serviu ao Exército, de onde foi contratado para o Operário, de Várzea Grande (MT).

“Mas sempre foi muito sofrido”. Trabalhou no DETRAN, no Departamento de Multas. Logo pediu demissão, por não concordar com o que via de errado naquela repartição. Mudando-se para Vitória (ES), foi procurar emprego nos classificados. Da vaga numa funerária não gostou. Arrumou o Turing Club do Brasil, onde era cobrador, depois acumulando a função de vendedor. Continuou o segundo ano lá e veio concluir o terceirão em Porto Velho.

Com o futebol continuava a fazer negócios. Foi conversando com um engenheiro, depois de uma partida, que percebeu estar perdendo tempo naquela cidade, pois ele tinha condições de se mudar para Porto Velho, capital de um Estado novo, que oferecia muitas oportunidades de crescimento. Voltou em 1982, época dos garimpos, dos bancos... mas ele não queria trabalhar num banco, queria era mesmo ser vendedor.

Procurou a Imobiliária Moreira Mendes e dr. Rubens o contratou para ser auxiliar. Ele acompanhava o corretor Francisco, sempre com uma bicicleta cargueira. “Só três ruas eram asfaltadas e naquela época chovia muito mais que hoje”. Foi quando ficou sabendo de uma vaga na TELEROM, como era um serviço muito bem remunerado, pensou “é só para a elite”. Fez vários testes, sempre indo de roupa e cabelo arrumados. “Quem avaliava, via tudo isso. Quer entrar no mercado de trabalho, essa é uma dica. Tem que manter um perfil, ter um padrão, focar no que queremos”.

Passou na seleção da TELEROM e ligou para a mãe, a fim de comemorar. Estagiava-se seis meses e depois era contratado. Só que mais uma vez o futebol o ajudou: todo mundo da empresa queria ele no time, nisso conheceu outras cidades da Região Norte. Foi contratado em dois meses. Com essa experiência ele indica colocar as crianças para fazer algum tipo de esporte, para criar laços de amizade, ganhar simpatia, “para ganhar dinheiro tem que ser amigo do cliente”.

Ailton diz que na Social Imóveis o funcionário Elizeu Evangelista, também estudante do Curso de Rádio e TV, comanda uma equipe de 50 pessoas, responsáveis por dois mil imóveis. “Se trabalha numa empresa, aprenda aquilo e saiba o que o colega está fazendo. Obtenha o conhecimento. O dia que faltar alguém, vão te reconhecer”. Na TELEROM ele foi auxiliar, passou a digitador, supervisor e operador de computador. Enfim, exerceu todas as funções, quando viu que era o final para ele. Os diretores bem que tentaram, enviaram-no para um curso de formação em Brasília, mas realmente não teve jeito, pediu para sair.

Foi para o JP Imóveis como corretor, onde encontrou muito apoio. Conseguiu o registro no CRECI e abriu uma empresa para ele. Montou a Social Imóveis, no ano de 1987. A empresa já existia, mas estava parada. Depois conseguiu comprar a outra metade do empreendimento.

Uma das passagens interessantes que ele recorda era o de dirigir o Passat sem assoalho, que utilizava nos primeiros tempos de profissão. Um dia teve que levar uma cliente para visitar um dos imóveis, passou muita vergonha com a poeira que subiu pelo carro. Ele ri e diz que ela se tornou amiga dele. Com o Fusca, ficou sem escapamento e precisou colocar a peça no banco de trás.

Sua fixação em ser vendedor deu certo. Hoje tem casa e carros “bons”, como a mãe dele sempre sonhou para os filhos. “Eu tinha algo definido, que alcancei. Tive foco, uma decisão. O mais importante é saber o que quer”.

Respeito – “Nunca devemos desrespeitas as pessoas por suas deficiências”, lembra Ailton. Professores universitários que querem falar sobre o segmento imobiliário pedem a ele. “Você pode ser o que for, mas tem que ter humildade. Você tem que tratar com respeito”.

Para o empresário, aprender a ser corretor, a ser dono de uma empresa, garante que em qualquer estado tenha uma boa profissão. “Você é cobrado pelo resultado, tem que profissionalizar, valorizar”

Além de montar sua empresa, é preciso ser advogado, fiscal, contador. Atualmente ele e a esposa são formados em Direito. “Tudo na vida tem que agregar valor. É como um prédio com vários degraus, se escorregar tem que subir novamente”. Estudou na FARO, como considerava que tinha uma base fraca para cursar uma faculdade, se esforçou e deixou que colegas também o cobrassem e o corrigissem. “Comecei um e terminei outro Ailton, você tem que permitir que te ajudem”.

Entre os locais que visitou estão Madri, Lisboa e outros países. “Pretendo conhecer o mundo”, diz Ailton, que ofereceu à esposa como presente de aniversário uma viagem a Paris. “Tem que acreditar em você e agradecer muito a Deus. Somos uma máquina com motorzinho funcionando, ter na mente: Deus, família, trabalho e lazer”. Segundo ele, “quando puderem, viajem. Saiam para ter uma mente diferente. Nem que seja de um bairro para outro. Valorize você mesmo”.

Sobre a profissão dos comunicadores diz que é algo que admira, pois vão buscar todo tipo de informação. Tem que ser inteligente, saber escrever, ser intelectual. Do nada cria uma situação bonita. “A TV Rondônia tem um jornal muito bem apresentado”. Falando nisso, ele parabenizou também a mim, estudante e blogueira que acompanhava suas falas e registrava para um dia disponibilizar aqui. “Ela escreve e ouve. Vai desfrutar desse conhecimento três vezes”.

Um comentário:

  1. Olá, Rosália! Que história emocionante e que lição de vida!
    Parabéns pelo blog e pela consistência dos conteúdos que vc publica.
    Bjs e um ótimo domingo!
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    http://extensaosaladeartes.blogspot.com

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