sexta-feira, 4 de março de 2011

Vale a pena ser jornalista?

Foi a pergunta feita em dezembro de 2006, na Revista Caros Amigos (nº 117), em texto de Fernando Evangelista. Reflexão que sempre gostei de reler, especialmente nos tempos que trabalhava nas redações.

Afinal, concordo com o historiador Guilherme Scalzilli, na página ao lado da mesma revista: “O mito da imparcialidade total serve à propaganda enganosa” (em “A ira da mídia vilã”).



Aproveitando o espaço de meu blog, revolvi deixar um pouco da mensagem de Evangelista registrado aqui também.

“Era sempre muito inquietante perceber que as notícias do dia – em muitíssimos casos – não correspondiam aos fatos que eu havia presenciado na véspera”. É uma das críticas que o autor faz aos problemas de distorção dos fatos, ao controle da informação, à autocensura e à falta de democracia que o mundo vive e que ele viu acontecer no cotidiano da profissão.

“Ao cobrir um confronto armado, por exemplo, o ideal seria estar em todos os fronts, ouvindo todas as versões, como se aprende na primeira lição de jornalismo na universidade”, nos ensina o jornalista e mestre pela Universidade de Coimbra/Portugal.

“Além de ter posição e deixar isso claro ao leitor, o jornalismo em que acredito deve saber costurar fios de uma história, descrevê-la da forma mais objetiva possível e contextualizá-la. Por que quando se fala sobre o MST se omitem dados importantes para entender a questão da luta pela terra?”

Dentro das assessorias de comunicação talvez nossas preocupações profissionais sejam outras, mas sempre vale a pena reforçar convicções e se perguntar se os versos do poeta servem também para nossa profissão: tudo vale a pena se a alma não é pequena?

“Ainda assim, vale a pena ser jornalista? Vale se tivermos ânimo para ultrapassar as fronteiras bloqueadas pela censura, pela ignorância, pela mentira. Vale se tivermos os olhos bem atentos, para ver o delicado, o diferente, o invisível. É preciso coragem para se comprometer, para dizer o que se vê e o que se sente, sem medos nem manuais. Só vale a pena ser jornalista se for – como cantou Torquato Neto – para “desafinar o coro dos contentes”.

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